A explicação do mundo através de lendas tem acontecido com quase todos os povos. Na cultura africana não poderia ser diferente. Observe como os africanos explicavam o surgimento do mundo.
O Celeiro do Mundo
No começo de tudo foi assim: Deus pegou uma grande quantidade de barro, amassou, amassou, fez bolas bem grandes e lançou no espaço de norte a sul e de leste a oeste.
Depois fez bolinhas bem pequenas e as espalhou no céu, onde viraram estrelas e começaram a brilhar.
Fez ainda o sol; uma enorme bola de argila recoberta de cobre vermelho e a lua envolvida por uma luz branca incandescente.
Em seguida, enviou a chuva sobre a terra seca e deserta e a tornou fértil.
Para povoar a terra, gerou as primeiras criaturas viventes: um chacal feroz e um casal de gêmeos, metade homem, metade serpente.
Deus não ficou satisfeito com essas duas criações e retomou sua prática como oleiro do céu.
Moldou então do barro quatro homens e quatro mulheres e os enviou à terra.
Eles deviam gerar uma descendência numerosa e viver para sempre, ensinando a seus filhos as técnicas de trabalho necessárias para a vida no planeta.
Em pouco tempo, porém, começaram a discutir entre eles. Deus os levou de volta para o céu e os proibiu de se encontrarem para que não voltassem a brigar.
Para os alimentar, deu a cada um, a semente de oito plantas comestíveis. decidiram comer sete sementes e guardar a da pequena digitaria, por ser pequena e pouco prática de preparar.
Com o tempo, porém, o primeiro dos antepassados tendo cossumido as sete sementes resolveu experimentar também a digitaria.
Esse primeiro homem, tendo rompido o juramento de consevar a digitaria, tornou-se indigno de permanecer no céu, devendo, portanto, regressar à terra.
Ora, na Terra, os primeiros habitantes viviam num estado miserável, pois seus membros eram desprovidos de articulações e moles como serpentes. Eles habitavam galerias escavadas no chão, não possuíam nenhum utensílio nem conheciam técnicas de trabalho.
Planejando seu retorno a Terra, o primeiro dos antepassados resolveu reunir tudo que considerou útil para os homens.
Assim, com terra do céu, construiu uma pirâmide, cuja base era circular e o topo quadrado. Em seguida seu interior, organizou oito compartimentos nos quais guardou as sementes comestíveis. Nas paredes do edifício, escavou quatro escadas, nas quais dispôs os animais e as plantas. No topo da pirâmide, espetou uma flecha, à volta da qual enrolou um fio. Prendeu a outra extremidade do fio a uma segunda flecha, que enviou para abóbada celeste.
Faltava-lhe fazer o mais perigoso: subtrair aos ferreoros do céu um pedaço do sol, para levar aos homens. Introduziu-se na oficina dos ferreiros e utilizando uma haste encurvada, apoderou-se de algumas brasas e de um fragmento de ferro encadescente que ocultou em um fole.
Por fim, lançou seu curioso edifício no vazio e foi decendo pelo caminho do arco-íris enquanto o fio se desenrolava como uma serpentina. O antepassado mantinha-se de pé, pronto para se defender dos perigos do espaço.
O ataque veio dos ferreiros do céu. Furiosos atiravam archotes no ladrão do fogo, obrigando-o a proteger-se com uma pele de carneiro que envolvia o fole. Contudo, o edifício descia cada vez mais depressa, deixando no seu rastro um feixe de estrelas.
A aterrissagem foi violenta: o antepassado perdeu o equilíbrio; a bigorna e o martelo quebraram-lhe os membros frágeis, criando as articulações de que tanto carecia. O antepassado delimitou então, o primeiro campo, construiu a primeira aldeia e a primeira forja. Em seguida, ensinou os homens a cavarem com uma enxada. Os outros sete antepassados se reuniram a ele e cada um trouxe o segredo de várias técnicas como fabricar sapatos e instrumentos musicais.
